quinta-feira, 5 de agosto de 2010

5. A sharia, o xador e a burca

Visão de uma mulher afegã usando a burca.
Fonte: Farzana Wahidy, National Geographic. 
Há a recomendação, quando não é norma, de em países islâmicos as mulheres usarem algum tipo de proteção sobre os cabelos cobrindo, por vezes, o rosto e até o resto do corpo. Esse costume é difundido pois os islâmicos entendem que o uso do véu faz parte de sua lei islâmica, a sharia (ou charia, ou chariah, há inúmeras grafias). Os países islâmicos que seguem esse modelo de legislação não separam Igreja e Estado, isto é, religião e governo. Dessa forma, a lei que vale para a mesquita vale para o tribunal e para o governo.
A principal fonte da lei é o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Outra fonte importante é a Suna, histórias relacionadas a Maomé que foram transmitidas pelas pessoas que o conheceram.

Mulher iraniana anda na rua usando xador.
Fonte: National Geographic. 
O véu islâmico tem várias versões; entre elas há o hijab, que cobre apenas o cabelo e o pescoço deixando de fora o rosto. Entre os véus mais conservadores está o xador, o qual se assemelha a uma manta sobre a cabeça até quase os pés. Nenhum desses véus se compara com a burca, que cobre todo o rosto da mulher; não há espaço nem para os olhos, pois eles são cobertos por uma tela. O hijab é o véu mais usado no mundo islâmico. O xador é comum em países como o Egito e o Irã. A burca é usada na Somália e no Afeganistão.


Recomendação de leitura: As mulheres do islã. Aventuras na História. São Paulo: Abril, 2010. Número 84, Julho de 2010.

4. O Imperialismo

Linha do tempo:




Charge da revista satírica inglesa Punch de 1911. O desenho
 possuía a seguinte legenda: "Leão (Inglaterra) diz para
o urso (Rússia):  'se nós não nos conhecêssemos
tão bem, eu não saberia o que você faz aqui
com o nosso colega gato (Pérsia)'". 
O Afeganistão é um país conhecido pela resistência da população à dominação estrangeira. No século XIX, o Império Britânico tentou por três vezes dominar o país sem resultados duradouros. No final da década de 1970 foi a vez dos soviéticos invadirem o
Afeganistão. Permaneceram no país por pouco mais de dez anos sem conseguir, contudo, dominá-lo. O mesmo ocorre atualmente com os EUA, que apesar de ter invadido o Afeganistão há quase dez anos em 2001, em nenhum momento conseguiu ter o controle completo do país.

 O Grande Jogo.

Os impérios russo e britânico disputavam o domínio da Ásia Central durante a primeira metade do século XIX. A Inglaterra dominava desde o século XVIII a Índia, enquanto a Rússia exercia grande influência na maior parte dos países próximos ao seu território. Os britânicos invadiram o Afeganistão para evitar uma invasão da Índia pelos russos.

Guerra soviética no Afeganistão

O último rei do Afeganistão foi deposto em 1973 e a partir de então um regime de orientação socialista conseguiu chegar ao poder. Os socialistas se viram em dificuldades quando guerrilheiros islâmicos, os mujahideen, com ajuda de países como o Paquistão, Arábia Saudita e EUA, organizaram uma resistência armada. O governo socialista pediu auxílio ao soviéticos russos, e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) invadiu o Afeganistão. A ocupação soviética durou até 1989.

Retirada das tropas Soviéticas do Afeganistão em 1988.
Foto de Mikhail Evstafiev.


Crédito das fotos: http://upload.wikimedia.org

terça-feira, 27 de julho de 2010

3. Os Pashtuns

Linha do tempo:



A partir de quando contar a história do Afeganistão? Podemos recuar até a Antigüidade, se quisermos, desde a chegada do conquistador grego Alexandre o Grande. Porém, se quisermos entender o país hoje, não precisamos recuar tanto. Escolhemos partir do século XVIII, quando os reis persas, onde hoje é o Irã, passaram a chamar a etnia dos Pashtuns de Afghans, de onde temos Afeganistão.
Dentre as etnias que habitam no Afeganistão hoje, a Pashtun é a principal abrangendo pouco menos da metade da população afegã (não se sabe exatamente a quantidade, pois o último censo foi feito em 1979). Os Pashtuns também estão presentes no Paquistão e espalhados em diversos países em menor número. A etnia dominante no Afeganistão já teve governo próprio em vários momentos da história, como o Império Durrani entre os séculos XVIII e XIX e a dinastia Barakzai nos séculos XIX e XX. O atual presidente do Afeganistão é Pashtun e o antigo governo Talibã era também composto, em grande parte, por Pashtuns.

Afeganistão entre 1970 e 1975. Autor: Joseph Hoyt.

A imagem ao lado é a de um sapateiro da etnia Pashtun durante a década de 1970. Observe ao lado que há fotos de modelos retiradas de revistas. Pouco mais de vinte anos depois, o Talibã proibiu a circulação de qualquer tipo de imagem que retratasse pessoas.

2: O Islã

O Islamismo é uma religião fundada no século VII por Maomé nas cidades de Meca e Medina, onde hoje é a Arábia Saudita. O livro sagrado dos muçulmanos é o Alcorão (ou Corão), que foi revelado ao Profeta Maomé a partir de 610 d.C. A religião fundada por Maomé se espalhou rapidamente e em poucas décadas já havia dominado, seja pela conversão, seja através do domínio militar de seus adeptos, grande parte do Oriente Médio e Norte da África. Um grande império islâmico surgiu logo após a morte de Maomé, o Califado, e as conquistas islâmicas ao longo do século IX chegaram à Europa conquistando a península Ibérica, onde hoje estão Portugal e Espanha.

Uma das bases da religião islâmica é a prática dos cinco pilares, que são deveres que os fiéis devem cumprir ao longo de sua existência:

Professar e aceitar o credo;

Orar cinco vezes ao longo do dia;

Pagar dádivas rituais;

Observar as obrigações do Ramadã;

Fazer a peregrinação a Meca.


A partir da metade do século VII, os muçulmanos que haviam conquistado o Império Persa passaram a invadir o território ao leste deste império, onde hoje é o Afeganistão. A conquista militar era sempre acompanhada por tentativas de conversão da população local. A conquista militar começou em 642 e só terminou em 870, com a queda de cidades resistentes como Cabul. A conversão da população local ao islamismo demorou ainda muito tempo, até o século XI.

Veja abaixo a localização da Caaba, lugar ao qual todo muçulmano deve fazer peregrinação na cidade de Meca:


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1: O Afeganistão

Mapa do Afeganistão. Fonte: CIA world factbook.
Quando pensamos em budismo, lembramos sempre de países como a China e o Japão, famosos por seus templos budistas. Ora, mas não foi nesses países que surgiu o budismo, mas sim na Índia. O Afeganistão está entre a Índia e a Arábia e recebeu influências religiosas tanto de uma quanto de outra. Os Budas destruídos em 2001 foram construídos na região de Bamyam, na qual havia muitos monastérios budistas e forte influência indiana.


O Afeganistão hoje é conhecido por ser um dos inúmeros países islâmicos do mundo, situado bem próximo ao centro religioso do islamismo, o Oriente Médio, próximo ao Irã, Iraque e Arábia Saudita. Podemos considerar o país um país árabe "genérico", sem nenhuma diferença entre outros tantos países árabes na Ásia ou na África? A verdade é que não podemos considerar nenhum país "genérico". Todos os países têm sua história, características e povos muito diferentes um dos outros. Além do mais, embora seja um país muçulmano, o Afeganistão não é um país árabe. Não podemos confundir também país muçulmano com país árabe. País árabe é um país situado na península arábica, como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos. Muçulmano é o nome que recebe a pessoa que segue a religião islâmica. A língua oficial da religião islâmica é o árabe, daí grande parte dos países islâmicos falarem árabe, mas isso não é regra. Há muitos países islâmicos que não têm o árabe como língua oficial, como a Turquia e o Irã.

Afeganistão e arredores. Fonte: IBGE.
Algumas informações básicas sobre o Afeganistão:

Área: 652,230 km2.
Fronteiras: China 76 km, Irã 936 km, Paquistão 2,430 km, Tajiquistão 1,206 km, Turcomenistão 744 km, Uzbequistão 137 km.
População: 29,121,286 (estimativa).
População urbana: 24%
Mortalidade infantil: 151.5/1000
Grupos étnicos: Pashtun 42%, Tajique 27%, Hazara 9%, Uzbeque 9%, Aimaque 4%, Turcomeno 3%, Baloch 2%, outros 4%
Línguas: Persa Afegão ou Dari (oficial) 50%, Pashto (oficial) 35%, Línguas de origem turca (Uzbeque e Turcomeno) 11%, outras línguas 4%.


(fonte: CIA world factbook)

Introdução: Os Budas de Bamyan.



Em março de 2001 foram dinamitadas estátuas de Buda na região de Bamyan, Afeganistão, construídas no século VI d.C. As estátuas eram consideradas patrimônio da humanidade pela Unesco. O motivo dado pelo governo afegão para a destruição das estátuas era de que a imagem de Buda seria uma representação de um ídolo religioso, o que seria contrário à religião islâmica e à orientação do governo Talibã.

Em setembro do mesmo ano, dois aviões se chocaram contra o World Trade Center em Nova York, em plano arquitetado pela organização terrorista Al-Qaeda comandada milionário saudita Osama Bin Laden, o qual residia à época no Afeganistão. Até onde se sabe, Bin Laden tinha forte apoio do governo afegão e por conta disso, os EUA invadiram o país no mesmo ano em uma ocupação que dura até hoje.

Mas ora:

Buda no Afeganistão? O Afeganistão não é um país islâmico?

Os países muçulmanos são sempre hostis ao Ocidente?

O que foi o regime do Talibã? Ou por que um governo pode adotar uma religião como lei?
No próximo dia 12/08, Thaís Oyama, editora da Revista Veja, irá ao Colégio Michelangelo para fazer uma palestra sobre sua recente reportagem sobre a situação da mulher no Afeganistão. Para melhor preparar os alunos para o evento, preparamos um blog com informações importantes sobre o Afeganistão e o mundo árabe. Acompanhe!